quinta-feira, outubro 10, 2024
Resenha - Joker folie à deux
quinta-feira, fevereiro 22, 2024
Pontos e contrapontos do filme “Sinais’’
Primeiramente esse é um projeto iniciado como um hobby para rever alguns filmes, principalmente clássicos do suspense/terror das décadas anteriores com o intuito de acrescentar pontos e contrapontos do mesmo, considerando os anos que se passaram da data de origem até a maturidade dos dias atuais. Rever filmes após muito tempo desde a primeira vez que assistiu, principalmente com idades diferentes como telespectador, e, com conhecimentos que antes ainda não seria possível ter adquirido, é uma experiência no mínimo interessante.
Ao perceber coisas que passaram em branco no momento seja pela idade ou pelo hype ou foco do exato momento e acrescentando coisas que jamais poderíamos saber que se prosseguiriam, por exemplo, lembrar de atores como Joaquin Phoenix em um desses maravilhosos clássicos, foi algo que havia passado despercebido por mim e não me recordava até rever o dito cujo “Sinais’’
Pontos do filme
O filme vai muito além da premissa principal que é alienígena, o filme traz consigo reflexões sobre a fé, a perda da mesma. Deus, destino, conflitos humanos, família, luto, guerra e etc.
O filme em si aborda todos esses pontos com maestria, e o vejo como um dos maiores do gênero de todos os tempos por toda a sua construção de narrativa, cenas assustadoras contendo um grande teor de terror psicológico (que particularmente, ganha meu coração muito mais que cenas forçadas a serem gores ou jumpscares mal-feitos.) e, que inclusive uma das cenas da famosa “brasilian party’’ ser considerada uma das cenas mais assustadoras de todos os tempos em filmes da época. E uma curiosidade, M. Night Shyamalan é um cineasta indiano naturalizado norte-americano também produtor do grande “O sexto sentido’’ e “Fragmentado’’. Entendo como todos já sabem que esse filme é imortalizado como um dos melhores do gênero, e um dos responsáveis da ascensão do assunto tão fervoroso dos anos 2000: OVNIS E ALIENS. Confesso que não tenho muitas informações da vida pessoal do próprio, mas creio que ele pode querer ter dito mais ainda com o filme nas entrelinhas. Como por exemplo o fato dele ter pensado em fazer ele próprio como o veterinário que atropelou a esposa do padre. E a invasão começa pela Índia. É um filme para ser revisto, que envelhece como vinho.
Considerações e contrapontos pessoais
Enquanto revia aos filmes algumas ideias me vieram a mente como contraponto de ser apenas um filme sobre aliens crença e religião em si, e gostaria de expor alguns desses pensamentos e questionamentos também como um contraponto ao próprio filme.
Diversas vezes o filme faz analogias a invasões de territórios e guerras, por exemplo em uma cena que o filho mais novo diz que os invasores só podem ter vindo tendo dois tipos de interesse: o de exploração de recursos por falta de recursos em seus respectivos territórios e para escravizar, ou para serem hostis e eliminá-los. A meu ver, é uma analogia de como funciona a guerra e países colonizadores. Morrem de medo de supostos alienígenas é claro, porque seriam estrangeiros e com aparência monstruosa e paranormal, assim como mostra a cena dos filhos com alumínio na cabeça pois leram que os aliens poderiam ler suas mentes.
Isso poderia ser visto também como uma crítica a quem sempre está alienado e acredita em tudo o que lê, quando se está com medo. Pois em algumas coisas o livro estava errado como afirmar que por eles serem desenvolvidos eram pequenos por não se desenvolverem fisicamente (Mais um caso que um não exclui outro). Mas quando eles aparecem, prova que esse fato não era assim tão verídico. E nesse momento o padre também faz piada do nome do cientista que apesar de não estar certo em tudo, estava certo em algumas coisas, pelo nome dele ser aparentemente do ocidental.
A casa deles tem as cores da bandeira dos eua (vermelho, azul e branco). O medo é muito abordado, como uma ferramenta para o filme é claro, mas também sobre como pode influenciar no nosso modo de percepção. Tanto no sentido religioso, como lógico. Como para bem, como para o mal. E o filme particularmente me chama mais atenção ainda por sua dualidade entre a crença e ceticismo. Acredito que o filme deveria ser visto MUITO mais do que um filme sobre religião e sobre acreditar em um Deus. Mas sobre também não cair na convicção de um dos dois, já que estamos em um universo tão amplo, o qual seria impossível saber de todas as coisas, e que há coisas que podem ainda nos surpreender tanto para o bem quanto para o mal. Além de que, não podemos prejudicar ou influenciar de maneira desequilibrada a outros com nossas próprias crenças ou descrenças particulares. O ceticismo do padre, que havia perdido a fé, muitas vezes poderia ter prejudicado a própria família o fazendo agir como um negacionista dos fatos, e também não estaria de todo errado por exemplo de não se alienar-se totalmente ao que vê na tv assim como foi aconselhado pela policial, fazer as crianças ainda se preocuparem com coisas do dia a dia e tirem o foco do medo. Ou seja, a busca de um equilíbrio, onde um não tenha que necessariamente excluir o outro, entende? Estar aberto as possibilidades.
E acredito muito que todos esses pontos foram utilizados através da personalidade e contexto de cada personagem acrescentado o que enriquece a trama. Um representa o referencial e base, porém que perdeu a fé, o outro é reconhecido pela sua força ao rebater a bola em um jogo e que traz ação e movimento muitas vezes a trama mas desacreditando de alguns fatos e crendo em algo superior ainda sim, a graciosa e carismática menina parece desconecta, mas é essencial a intuição e percepção da mesma, e o garotinho apesar de sua “fraqueza’’ ser a asma, o limitando ‘’fisicamente’’ ele faz o papel da mente mas acaba se apegando muito ao livro que encontrou em uma loja sobre os aliens e suas memórias afetivas com a casa/mãe, tentando ler e entender sobre o assunto dos aliens para os enfrentar se preciso.
“As pessoas se dividem em dois grupos quando vivenciam um momento de sorte. O grupo número um vê como mais do que sorte, mais do que coincidência. Eles vêem como um sinal, uma evidência de que alguém está cuidando deles. O grupo número dois vê como pura sorte, um acaso feliz. Tenho certeza que o grupo número dois está olhando para essas 14 luzes de forma suspeita. Para eles a situação é meio a meio. Pode ser ruim, pode ser boa. Mas lá no fundo eles sentem que, não importa o que acontecer, eles estão sozinhos. E isso os enche de medo. Sim, existem essas pessoas. Mas tem muita gente no grupo número um e, quando eles vêem essas 14 luzes, eles vêem um milagre. E lá no fundo eles sentem que, não importa o que acontecer, haverá alguém lá para ajudá-los. E isso os enche de esperança. Você deve se perguntar que tipo de pessoa você é. Você é do tipo que quando vê sinais, vê milagres? Ou você acredita que as pessoas simplesmente dão sorte? Ou veja a questão dessa maneira: É possível que não existam coincidências?’’
Em muitos momentos durante a trama vê algumas pessoas levando como mentira, teoria da conspiração aumentando ou diminuindo os fatos e etc. Assim como acontece em grandes conflitos mundiais. Levados pelo medo também, querem negar o que acontece.
Eu considero esse filme como aberto para diversas interpretações e com diversos contrapontos religiosos poderiam ser feitos. Agora é o momento que vou trazer contrapontos a pontos do filme que são interpretados como sensos comuns somente referentes a religião:
Desde o início do filme e em algumas partes da sequência do mesmo, há a presença da filha mais nova sempre falando coisas importantes que podem passar despercebidas pelos adultos como
“a agua esta contaminada’’
“a agua está com gosto estranho’’
Ela também fala muito dos seus sonhos que são utilizados como ferramenta para a narrativa mais tarde (ela diz que havia sonhado com o irmão na cena que o vê no chão morrendo por conta da asma). No fim, a água servia como arma contra os aliens, os queima como se fossem água benta. Mas e se não fosse por conta do ponta de vista religioso, mas por conta da água estar realmente contaminada pela humanidade? Ou pelo menos para criaturas de fora? Em uma das cenas no início, o cachorro tem apresentado sintomas de doença, e quando dão água novamente para ele beber, o cachorro ataca do nada ficando violento, fazendo com que o irmão o mate para defender a menina. Ou seja, durante todo o filme mostram sinais, que os mesmo preferem ignorar, apesar ou por conta do medo e de prendimentos ao passado, causando consequências depois. Por exemplo este, dele ignorar levar o cachorro ao veterinário porque o mesmo havia atropelado sua esposa.
Quando os aliens se mostram de fato em momento algum mostra algum deles de fato atacando alguém, mas mostra que alguns deles apareceram se esgueirando ou os sinais da existência deles. Se eles estivessem de fato com a intenção de serem hostis porque estariam esperando tanto para atacar? Eles conseguem ouvir alguns grunhidos dos mesmos ao captar o sinal pela babá eletrônica e quando o padre se esgueira pelo milharal, onde ele avista apenas as mãos de um deles. Como ter certeza do que eles queriam, se nem mesmo poderiam se comunicar com eles pois não entenderiam?
As luzes os levam a crer que estavam criando algum tipo de mapa e que iriam atacar, e negam ser naves dos eua, e como estava somente em outros países até então ainda não tinha certeza do conflito ser real. Chega então de fato a realidade na porta deles.
Nessa cena também mostra que eles começaram a se esconder criando um tipo de “escudo invisível’’. Por quê? Além do mais o que traria essas criaturas para um planeta cercado por água, que seria até então, a fraqueza deles retratada? Eles não saberiam disso? Ou também poderia ser alguma coisa na água, desconhecida por eles, causado pela alteração humana ou pela atmosfera terrestre mesmo. Também não há evidencias assim como na noticia da radio fala que eles queiram a Terra ou matar humanos, poderiam estar buscando algo, até mesmo caso o cenário de uma verdadeira invasão seja feita com alguma intenção futuramente ou para algum próximo filme (meu sonho).Já que tem a cena de um militar falando de uma técnica de guerra parecida com isso de analisarem o solo antes de um ataque real, e por a radio ter dito que já tinham ido embora, e deixaram alguns deles feridos (por exemplo, o sem o dedo, e não um deles humanos feridos, aparentemente não teve muito a intenção de uma real guerra). Talvez algo aconteceu no planeta deles que precisam buscar fora, ou, humanos fizeram algo também para eles terem vindo.
Mas logo mostra a cena do veterinário ferido com todas as suas coisas no carro indo embora, dizendo que capturou um deles na sua despensa e pedindo perdão por ter atropelado a esposa dele por conta de ter trabalhado demais e estar exausto. E ele diz que “pessoas como ele que atropelam mulheres de padre não tem espaço no paraíso’’ fazendo alusão do que é perdoado ou não pelas pessoas. Quando o padre vai lá conferir, fica tentando o amedrontar com palavras como se ele fosse um soldado humano qualquer, ao tentar esgueirar pela despensa para o ver pega uma faca para se proteger e percebe que pode usar o reflexo para o ver, se assustar e acaba cortando o dedo de uma das criaturas, cuja aparição é deixada para o gran finale.
Após se esconderem sem muito planejamento na própria casa, mesmo com a informação que talvez o lago poderia ser um lugar melhor e após ter finalmente parado de negar alguns sinais, pois os invasores aparentemente não chegavam perto do lago, eles decidem por permanecer na casa pois o garotinho virou o voto da irmã quando o padre faz uma votação para decidirem o que fazer, usando a memória afetiva ao lugar com a mãe deles e alegando que ainda não sabiam de nada e que a teoria da água parecia mentira. Inclusive é muito engraçado notar que eles pregam madeiras do lado de dentro de um quarto cujo a porta abre para fora!!!!
Após algumas horas ficam por um tempo no porão e um deles tenta agarrar o garoto causando nele um grande susto gerando uma crise de asma. No meio da confusão do conflito o padre não pensou em suprimentos caso eles precisassem se manter ali por mais tempo nem no remédio do garoto. Apesar disso ele reverte a situação, mas o garoto aparenta estar bem mal e eles resolvem subir para buscar o remédio apos escutarem no rádio que os ataques já tinham passado. Eles se pegam de frente a um deles com o garotinho em seus braços, ele poderia já o ter devorado ou ferido, mas ele permanece com ele nos braços, e ficam se entreolhando. Ele abre a boca mostra os dentes, mas solta um gás pelo pulso. E se na verdade ele não estivesse tentando o matar, e sim o ajudar? Pois logo depois o garoto parecia morto, mas ele sobrevive como que por um ‘’milagre’’.
Mas e se o medo por ele e pela família não o deixasse essa possibilidade existir, e seria mais comodo acreditar neste mero milagre? Em diversos momentos ele mostrou que não é que não acreditava em Deus mais, mas estava ressentido e tinha ódio, por Deus ter deixado ele e sua família sofrer com a morte da esposa, uma visão um pouco individualista de fato
Acredito que pode ser um ponto do filme ainda mais usando como ferramenta principal do filme a dualidade entre crença e ceticismo. Naquela quote do “existem dois tipos de pessoa’’, inclusive até mesmo para interpretarem os filmes. O cineasta não afirma nada, deixa a escolha ao telespectador também.
Ps.: A cena da festa brasileira teve uma grande perda de oportunidade de transformar-lha em algo ainda melhor se tivesse feito referência a localização de Varginha em Minas Gerais e não Passo Fundo, onde há uma grande relação com extraterrestres e história brasileira.
E é muito engraçado porque aquela cena não tem nada parecido com uma festa de criança brasileira, o que é estereotipado demais confundindo com outras culturas latinos como se fôssemos todos iguais.
Talvez eu use isso em um próximo conto de suspense/terror quem sabe?!